segunda-feira, 16 de novembro de 2015

"A Desobediência Civil" - Henry Thoreau

Resenha fantástica feita por uma amiga linda desse livro incrível que nos faz repensar nosso modo de vida e às catástrofes que mundo vem sofrendo já faz algum tempo:

""No atual momento de nosso país, vale a pena ler este livro exaustivamente.

Sobre "A Desobediência Civil" - Henry Thoreau

Henry Thoreau em “A Desobediência Civil” critica categoricamente o ideal americano afirmando que: “o melhor governo é o que menos governa” (2012 p. 7), pois o governo é apenas uma conveniência de paz. Contudo, a regra da conveniência não se aplica quando a justiça deve ser feita custe o que custar, pois “se injustamente arranquei a tábua de salvação a um homem que se afogava, devo devolvê-la, embora me afogue”. Thoreau não anseia pela abolição do governo e sim por um governo melhor. Afirma igualmente que nem sempre a maioria está certa, porém, é fisicamente mais forte. Entretanto, adverte- nos de que a consciência não deve ser abdicada em favor do legislador, pois a lei nunca tornou os homens mais justos, porque tais servem ao Estado como máquinas, com seus próprios corpos; sem o livre exercício de moral e discernimento, quando o homem deveria preceder o súdito americano.
   Thoreau faz uma ferrenha crítica ao governo norte americano que prega a liberdade, mas escraviza. Há muitos que se consideram filhos da liberdade, de Washington e Franklin, mas não fazem absolutamente nada para acabar com a escravidão, acomodando-se com as notícias e esperando providências de outros, nunca dele mesmo, preocupados apenas com “a defesa exterior da liberdade.” (2012, p.13, 146) Em referência à Guerra Mexicana, no caso do homem que manda substitutos para praticar atos que ele mesmo despreza, reverenciando sua própria estupidez, pois, se nega a ir para a guerra, mas indiretamente sustenta o governo que faz a guerra com o seu dinheiro, desta forma, tornando o imoral, amoral. Admoesta que o voto inconsciente de um homem desesperado é o mesmo daquele que vende o seu voto afirmando que a injustiça faz parte da máquina governamental, pois o mal está na Constituição do Estado.
Citando seu próprio exemplo de insujeição ao Estado pelo não pagamento de impostos, Thoreau diz que o homem que não paga tributos ao governo é preso, pois a cadeia é o lugar mais honroso onde um homem pode habitar com honra e onde o Estado coloca aqueles contra ele, punindo o seu corpo por não conseguir atingi-lo diretamente. Contudo, se este roubar do governo, logo ficará livre. Um governo que prende qualquer pessoa injustamente, também prenderá um homem justo. A autoridade do governo é injusta porque para ser justa precisa ter a sanção e o consentimento dos governados, ou seja, apenas pode dispor dos direitos sobre o indivíduo, que este último lhe outorgar.
       Thoreau, afirma que busca agir em conformidade com as leias da terra porque “quando um homem não pode viver de acordo com sua natureza, deve perecer assim como uma planta”, de modo que em sua visão, o pagamento de impostos favorece a injustiça numa amplitude além da exigida pelo Estado, e sujeitar-se a ele significaria a sua diminuição como homem. O estado americano de Massachusetts, onde Thoreau vive e repetidas vezes citado por ele, " reserva as prisões a qualquer espírito livre – o que nos cabe, entretanto, é não participar do mal que condenamos, e não é porque o homem não pode fazer tudo que fará algo errado e que qualquer homem que seja mais reto que seus semelhantes já se constitui maioria de um ". (2012, p. 18, 19) Thoreau afirma que o indivíduo é o poder mais alto e independente e, enquanto não houver um governo que reconheça isso e prepare seus governados para cumprir com suas obrigações como seres humanos, será impossível um governo livre e esclarecido rumo a um Estado perfeito e glorioso.
Thoreau tece um relato sobre a escravidão em Massachusetts, e ironiza o fato do Estado e sua lei escravocrata habitante da lama, mobilizar sua força militar para capturar um escravo fugitivo quando nenhum soldado é oferecido para resgatar um cidadão seqüestrado. São homens que lutaram pela sua própria liberdade e agora desprovidos de princípios lutam pelo direito de escravizarem outros. Thoreau adverte que os homens precisam tornar a lei livre porque esta não o fará por eles, como no caso de um juiz de Massachusetts que agindo pelos critérios da justiça sentencia um escravo fugitivo a retornar ao seu dono por esta ser uma ação constitucional em vez de justa. Deste modo, escraviza seu discernimento por não reconhecer uma lei mais elevada do que a Constituição e por economizar nos seus princípios morais, virtudes e qualidades nobres criando expectativas somente nas eleições em vez de fazer de si um homem melhor a cada dia.
Critica a adoção da mão de obra produtiva com ambições materialistas, ou seja, com o único intuito de ganhar dinheiro em vez de proveito real, e quando este se sobrepõe ao lazer tomando mesmo que involuntariamente em pensamentos, assim como o olhar da sociedade de só enxergar como trabalho ocupações que rendam dinheiro em detrimento de um bom trabalho,  mesmo que isto envolva usar como “adubo os ossos dos ancestrais”. (2012, p. 106) Somos pagos para “ser algo menos que homens”. (2012, p.128) Segundo Thoreau, esta forma de ganhar a vida é uma forma de nos eximirmos da própria existência como se o mundo fosse uma rifa.
Há muitas semelhanças com o relato tecido por Thoreau ainda no século XIX e em nossos dias. Ainda vendemos o nosso voto em troca de um punhado de pão e de uma bolsa social ou pior ainda, votamos sem consciência, considerando este exercício uma obrigação sem maiores conseqüências do que a de pressionar três teclas. Ainda servimos como peças para a maquinaria do Estado, pois, agimos primeiramente como súditos permitindo que nosso espírito seja tomado por toda sorte de concupiscência, escravos do materialismo; enquanto deixamos de lado a nossa própria família, e daí sim; se sobrar tempo, somos homens. Continuamos a esperar dos nossos semelhante ações morais que cabe somente a nós o primeiro passo, o que se inclui neste a reforma imediata em nosso ordenamento jurídico pedido este feito pelos que resistem as leis, os “Desobedientes Civis”, pois estas leis embora legítimas ainda se assentam nos moldes das políticas imperialistas. Thoreau nos mostra que é preciso refutar as leis injustas a fim de proteger os nossos direitos essenciais ainda não completamente resguardados pelas esferas de nossas leis. “A Desobediência Civil” mostra-nos que a democracia não é sinônimo de um governo justo. É preciso desenvolver nossa cidadania por sermos sujeitos ativos e questionadores de decisões oriundas do Estado e na reivindicação consciente de nossos direitos não somente como indivíduos, mas como força pública. ""

BSB

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